Num mundo onde as redes sociais definem a identidade de cada um, há um grupo de pessoas que prefere observar e proteger a sua privacidade. Num mundo hiperconectado de redes sociais, onde a publicidade parece ser a norma e cada curtida funciona como uma pequena dose de reconhecimento, há um grupo de utilizadores que se comporta de maneira diferente: os chamados «lurkers» ou «observadores silenciosos».
Eles não publicam fotos (ou quase nunca), não comentam publicações, raramente dão «curtidas». No entanto, eles estão presentes. E, longe de ser uma atitude passiva, a psicologia afirma que esse comportamento corresponde a traços de personalidade muito específicos.
Conforme explicado no site Geediting, esse comportamento não é aleatório, mas sim uma manifestação de traços de personalidade muito específicos.
Autoconsciência e controlo
A primeira característica que os define é a autoconsciência. Eles são muito cuidadosos com a imagem que projetam e evitam ações impulsivas para não correrem o risco de serem mal interpretados.
Assim, o silêncio torna-se uma estratégia de defesa que lhes permite manter o controlo e, ao mesmo tempo, captar facilmente as nuances da interação digital, desde «mudanças de tom» até «tensões ocultas e subentendidos que muitas vezes passam despercebidos para quem publica frequentemente».
O poder da observação sem intervenção
Outra característica importante é a preferência por observar em vez de agir. Esses utilizadores gostam de consumir informações, sem se tornarem protagonistas e sem sair para o primeiro plano.
Isso não significa ausência de opinião. Na verdade, em muitos casos, suas posições são firmes, mas eles não sentem a necessidade de expressá-las publicamente nas redes sociais. Em vez disso, a sua posição permite-lhes identificar padrões, compreender a dinâmica dos grupos e construir relações privadas, sem se exporem a riscos.
Cautela perante a vulnerabilidade
Publicar nas redes sociais significa expor-se a críticas, condenação ou interpretações erradas. Por isso, os silenciosos valorizam a confidencialidade. Eles preferem partilhar ideias em círculos restritos e confiáveis.
Eles estão mais conscientes dos riscos da autoexpressão, e o seu silêncio serve como um escudo contra a rejeição, a vergonha ou a incompreensão.
A psicóloga Olga Albaladejo concorda que muitas pessoas «têm medo de serem condenadas ou mal interpretadas. Preocupam-se com a forma como as suas palavras serão recebidas, se parecerão levianas, inadequadas ou desinteressantes».
Mente reflexiva e analítica
Ao contrário da instantaneidade que domina o ambiente digital, os observadores silenciosos preferem parar. Dedicam tempo à análise e processamento da informação.
Em vez de reagir instantaneamente, eles refletem, discutem em particular ou integram em sua própria forma de pensar. De acordo com especialistas, essa atitude está relacionada à abertura, experiência e maior profundidade cognitiva.
Independência da aprovação social
Talvez a sua característica mais marcante seja a independência em relação aos indicadores de aprovação externa. Ou seja, eles não dependem de curtidas e comentários para se sentirem reconhecidos.
Essa distância da lógica da popularidade digital os torna mais resistentes às modas e tendências, mais autênticos na sua vida privada, embora essa autenticidade nem sempre seja visível nos seus perfis.
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O silêncio do WhatsApp
Mas este fenómeno não se observa apenas nas redes sociais. Ele também se repete nos grupos do WhatsApp, onde muitos leem sem responder.
Segundo a psicóloga, «não existe uma forma «certa» de se comportar nos grupos do WhatsApp. É como na vida real: tudo depende de muitos fatores, e não podemos patologizar ou procurar perfis de personalidade nessa forma específica de comportamento».
Além disso, ela acrescenta: «Quando alguém decide não responder num grupo do WhatsApp, na verdade está a tomar uma decisão e, consequentemente, a agir em relação à forma como deseja administrar a sua energia, atenção e tempo. É uma forma de respeito por si mesmo».
O silêncio também é uma forma de comunicação
Os psicólogos concordam que isso não é indiferença, mas uma forma alternativa de estar presente no espaço digital. Um observador silencioso pode notar detalhes que os participantes mais ativos ignoram e até mesmo refletir mais profundamente sobre eles.
Assim, a ausência de publicações, comentários ou respostas não significa desligamento. É uma escolha consciente, baseada na autoconsciência, privacidade e independência.