Este regulador biológico participa em processos metabólicos, cardiovasculares e neurológicos. Quais são os possíveis efeitos adversos e por que os especialistas alertam sobre a necessidade de supervisão médica
A melatonina, conhecida como a «hormona do sono», é produzida naturalmente pelo organismo e desempenha uma função essencial na regulação do ciclo sono-vigília, sendo libertada principalmente durante a noite e indicando ao corpo que é hora de descansar. Ao sincronizar o relógio biológico, facilita a transição entre a vigília e o sono.
Além da sua influência direta no descanso, a melatonina participa noutros processos fisiológicos, como a regulação da pressão arterial, dos níveis de glicose, do peso corporal, das hormonas e da temperatura corporal, de acordo com informações da Healthline.
Benefícios comprovados para o sono
Vários estudos apoiam o uso da melatonina na melhoria do sono. Uma revisão de 2019 analisou onze pesquisas e concluiu que, ao tomar este composto antes de dormir, o tempo para adormecer diminui em quase três minutos e a duração total do descanso aumenta aproximadamente trinta minutos em comparação com um placebo.
Outra análise de 2021, focada em pessoas com distúrbios do sono relacionados a doenças, descobriu que a melatonina reduz as alterações e a latência do sono. Ela também aumenta a duração e a qualidade do descanso. O suplemento é útil para ajustar o relógio interno em caso de jet lag ou para quem trabalha em turnos noturnos, pois ajuda a readaptar o ciclo circadiano.
Fatores que afetam os níveis de melatonina
Existem vários fatores que podem reduzir os níveis noturnos de melatonina, dificultando o início do sono. Entre os principais estão:
- Consumo de álcool, cafeína ou tabaco.
- Exposição à luz azul de dispositivos eletrónicos.
- Envelhecimento.
- Trabalho por turnos.
- Certos medicamentos.
Em pessoas com baixos níveis dessa hormona, o uso de suplementos pode contribuir para restabelecer o ritmo circadiano. No entanto, os especialistas enfatizam a importância de consultar um profissional antes de incorporar a melatonina à rotina, para avaliar a sua pertinência em cada caso.
Doses, efeitos secundários e precauções
Os especialistas sugerem começar com doses baixas, entre 0,5 e 1 miligrama, cerca de trinta minutos antes de dormir, embora isso dependa sempre da recomendação médica. Se não se obtiver o efeito desejado, a dose pode ser aumentada para 3 ou 5 miligramas. Normalmente, não se observam maiores benefícios acima de cinco miligramas.
O objetivo é encontrar a dose mínima eficaz e sempre sob orientação médica, uma vez que a automedicação implica riscos, especialmente se forem consumidos outros medicamentos.
Entretanto, a melatonina, além de promover o sono, pode ter efeitos positivos em outras áreas. Certas evidências sugerem que ela pode ajudar a reduzir a degeneração macular associada à idade devido às suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias.
Também está a ser estudada a sua possível utilidade no tratamento do refluxo ácido, proteção da mucosa esofágica, diminuição dos sintomas de zumbido e alívio de enxaquecas. Em pessoas com doença de Alzheimer, pode melhorar a qualidade do sono e o estado de alerta matinal. No entanto, de acordo com a Healthline, esses benefícios requerem mais estudos para serem confirmados.
Segurança e possíveis interações
A melatonina é considerada um suplemento seguro, não tóxico e não viciante para adultos e crianças, de acordo com várias pesquisas. Foram documentadas doses diárias entre dois e dez miligramas durante períodos de até três anos e meio, sem eventos adversos significativos e sem interferência na produção natural da hormona.
Mesmo assim, podem ocorrer efeitos indesejáveis leves, como sonolência diurna, fadiga, tonturas, dor de cabeça, náuseas ou sensação de frio.
A melatonina pode interagir com medicamentos como sedativos, anticonvulsivantes, anti-hipertensivos, antidepressivos, contraceptivos orais, tratamentos para diabetes e imunossupressores.
O consumo de álcool também pode afetar os níveis e a qualidade do sono, embora esses efeitos variem de acordo com o estudo. Portanto, recomenda-se consultar um médico antes de iniciar o suplemento, especialmente se estiver a utilizar outros medicamentos.
Precauções especiais na gravidez, amamentação e crianças
Durante a gravidez, a melatonina atravessa a placenta e participa no desenvolvimento dos ritmos circadianos e dos sistemas nervoso e endócrino do feto. Embora possa exercer efeitos protetores contra o stress oxidativo, a falta de estudos suficientes impede recomendar o seu uso em mulheres grávidas ou a amamentar.
Em relação à população infantil, uma revisão de 2019 indica que o uso a curto prazo permite que as crianças adormeçam mais rapidamente e prolonguem o seu descanso. Um estudo de 2018, que fez um acompanhamento durante onze anos, não detectou diferenças significativas na qualidade do sono em relação àqueles que não tomaram melatonina na infância.
No entanto, existem dúvidas sobre os efeitos a longo prazo, especialmente em relação ao início da puberdade, processo associado à diminuição vespertina da hormona. Por esse motivo, os especialistas aconselham priorizar a aquisição de hábitos de sono saudáveis e sempre consultar o pediatra para avaliar a conveniência e a dose adequada de melatonina.
A melatonina é uma alternativa geralmente segura para quem deseja melhorar o seu descanso, embora possam ocorrer efeitos secundários leves em alguns casos. O acompanhamento profissional é fundamental para garantir um uso correto e adaptado às necessidades individuais.