Agentes automatizados com inteligência artificial aumentaram a precisão dos relatórios e aliviaram a carga médica, além de otimizar a deteção de alertas e facilitar intervenções médicas oportunas. Detalhes do estudo realizado pela American Heart Association
Aos poucos, a tecnologia está a ser incorporada em tarefas diárias da área da saúde que, até pouco tempo atrás, pareciam depender exclusivamente do contacto humano. É o caso dos agentes de voz com inteligência artificial, que recentemente demonstraram sua utilidade para ajudar idosos a registrar leituras mais precisas de sua pressão arterial sem sair de casa.
Uma pesquisa apresentada nas Hypertension Scientific Sessions 2025 da American Heart Association comprovou que essa tecnologia pode tornar o acompanhamento clínico mais eficiente, melhorar a qualidade dos relatórios e aliviar a carga das equipes médicas.
Como funcionam os agentes de voz no monitoramento domiciliar
O estudo, realizado na Emory Healthcare (Atlanta), analisou durante dez semanas 2.000 adultos com hipertensão arterial. A maioria dos participantes tinha mais de 65 anos e 61% eram mulheres, com idade média de 72 anos.
Esses agentes de voz, baseados em modelos linguísticos avançados, contactaram os participantes tanto em inglês como em espanhol. Solicitaram-lhes dados recentes sobre a pressão arterial ou acompanharam-nos durante uma medição em tempo real.
Se os valores relatados estivessem fora dos limites clínicos — ajustados para condições como diabetes — ou se o paciente mencionasse sintomas preocupantes, como tonturas, visão turva ou dor no peito, a chamada era imediatamente encaminhada para pessoal médico qualificado.
Os encaminhamentos urgentes eram concretizados instantaneamente, enquanto os restantes eram atendidos nas 24 horas seguintes. Todos os resultados eram registrados no prontuário eletrônico do paciente e revisados por um profissional.
Impacto clínico e eficiência para os sistemas de saúde
O sistema também permitiu identificar facilmente aqueles que tinham dificuldade em controlar a pressão arterial e encaminhá-los para programas especializados. Esse fluxo de trabalho mais automatizado reduziu significativamente o trabalho manual da equipe de saúde.
De acordo com a American Heart Association, o custo por leitura diminuiu 88,7% em relação ao monitoramento tradicional realizado por enfermeiros. The Rundown AI Newsletter comparou os gastos entre agentes de voz comerciais e chamadas feitas por humanos para confirmar essa diferença.
Durante o período de observação, 85% dos participantes foram contactados com sucesso e 67% completaram a chamada. 60% realizaram uma medição de acordo com os padrões clínicos; entre eles, 68% atingiram os valores recomendados pela métrica CBP Stars (controlling blood pressure).
Foram fechadas 1.939 lacunas de controlo, um número que permitiu que a classificação de qualidade CBP Stars do Medicare Advantage e HEDIS subisse de uma para quatro estrelas, uma melhoria de 17% neste indicador.
O resultado económico chamou a atenção: não só a gestão clínica foi otimizada, como os custos associados ao monitoramento foram drasticamente reduzidos. Para sistemas de saúde com população envelhecida, essa diferença pode ser fundamental para sua sustentabilidade.
O que pensam os pacientes e especialistas?
A satisfação dos pacientes foi elevada. Ao final de cada chamada, eles responderam a uma breve pesquisa com pontuação de um a dez, e a média obtida foi superior a nove. “Ficamos surpresos com as altas pontuações dos pacientes após interagirem com os agentes de voz baseados em inteligência artificial”, disse Tina-Ann Kerr Thompson, principal autora do estudo e diretora da Emory Healthcare, que acredita que a boa recepção pode facilitar a adoção da tecnologia no futuro.
Do ponto de vista dos especialistas externos, destaca-se o potencial deste tipo de soluções. Eugene Yang, voluntário da American Heart Association e professor da Universidade de Washington, opinou: «Este pode ser um estudo revolucionário. Medições precisas da pressão arterial são essenciais para melhorar o controlo, e novas abordagens podem facilitar isso».
Limitações e o futuro da IA na hipertensão
A investigação teve algumas limitações: foi observacional, sem grupo de controlo, e foi impossível fazer uma comparação direta entre chamadas automatizadas e humanas, pois não foram conseguidas comunicações suficientes geridas apenas por pessoal. Além disso, tratou-se de uma análise retrospectiva sobre informações já registadas, de modo que a American Heart Association adverte que os resultados devem ser considerados preliminares até serem publicados numa revista científica revisada por pares.
O controlo adequado da pressão arterial é essencial para prevenir doenças cardiovasculares, e o monitoramento em casa é recomendado para todas as pessoas com hipertensão, de acordo com o guia atualizado de 2025 da American Heart Association.
A mesma associação sublinha que a incorporação de tecnologias inovadoras, como agentes de voz com inteligência artificial, pode superar barreiras de acesso e acompanhamento clínico, abrindo novas possibilidades para uma gestão personalizada e eficiente da hipertensão.