A Fundação Garrahan e o British Hospital estão a organizar em conjunto um evento sem precedentes, que reunirá especialistas internacionais e regionais para discutir o futuro do armazenamento, gestão e utilização de material biológico na ciência.
Um novo marco para a ciência da Argentina se materializa em Buenos Aires, que será o local da primeira reunião regional da Sociedade Internacional de Bancos Biológicos e Ecológicos (ISBER) na América do Sul. O evento, que será realizado no Hospital Britânico nos dias 12 e 13 de setembro, marca a chegada à região de uma reunião que reunirá especialistas internacionais na área de biomedicina e gestão de amostras biológicas.
A reunião abre as portas para uma rede de cooperação regional sem precedentes entre profissionais e centros de investigação.
Segundo a Dra. Maria Teresa Garcia de Davila, diretora do biobanco institucional do Hospital Britânico e ex-diretora do Banco de Tumores Infantis do Hospital Garrahan: «Este é um evento histórico e muito significativo. A Sociedade Internacional de Bancos Biológicos e Ambientais (ISBER) realizou conferências na América do Norte, Ásia e Europa, mas nunca em nossa região. Realizar o encontro em Buenos Aires, no Hospital Britânico, é uma oportunidade única para demonstrar o trabalho dos nossos biobancos e estabelecer um intercâmbio direto com especialistas internacionais».
A realização deste encontro baseia-se na parceria entre a Fundação Garrahan e o Hospital Britânico, duas instituições líderes na criação e desenvolvimento de biobancos nacionais. Como observou a Dra. García de Davila, esta cooperação «reflete um compromisso comum: fortalecer a investigação biomédica e promover a cooperação regional».
A agenda incluirá questões estratégicas relacionadas com o futuro da investigação biomédica: qualidade, melhores práticas, ética, sustentabilidade e políticas públicas na gestão de biobancos e biorepositórios. O programa contará com a participação de oradores do Canadá e dos Estados Unidos, bem como de especialistas de vários países da América Latina.
Encontro histórico para a região
A decisão da ISBER de organizar pela primeira vez um encontro regional na América do Sul marca um momento decisivo na área dos biobancos. Até agora, esta organização global realizava conferências apenas na América do Norte, Ásia e Europa.
Ele acrescentou: «Ambos os hospitais foram pioneiros no desenvolvimento de biobancos na Argentina e, juntos, buscamos criar um espaço para o intercâmbio das informações mais recentes e o estabelecimento de contactos entre especialistas e investigadores».
Biobancos: definição, função e situação na Argentina
Um biobanco é uma instituição pública ou privada sem fins lucrativos cujo objetivo é armazenar, processar e distribuir coleções de amostras biológicas humanas, acompanhadas dos dados clínicos correspondentes.
Como explica o Dr. Garcia de Davila, «a sua função é disponibilizar essas amostras para investigação biomédica de forma organizada, ética e segura». Estas estruturas são consideradas plataformas indispensáveis para a medicina translacional. Esta disciplina visa que as descobertas científicas passem do laboratório para a prática clínica, permitindo o desenvolvimento de novos métodos de diagnóstico e tratamento.
Os biobancos são insubstituíveis nesse processo, pois fornecem as amostras e os dados necessários para o avanço da investigação aplicada. Na Argentina, os biobancos existem em instituições de referência, como o Hospital Garrahan, o Instituto Ángel J. Roffo, o Hospital Italiano, o Hospital Infantil Ricardo Gutiérrez e o Hospital Eva Perón, Fleni, Instituto Oñativa em Salta, IMiBiO em Misiones, Poblar, INBIRS, INGEBI e Biobanco Nacional ANLIS Malbran, entre outros.
Garcia de Davila explicou: «Os biobancos recolhem amostras únicas e irrepetíveis que permitem compreender doenças complexas, como o cancro ou doenças raras. Sem os biobancos, muitas das pesquisas atuais seriam impossíveis».
«Todos eles mantêm ligações com biobancos de países como Chile, Brasil, México, Uruguai, Colômbia e Equador», acrescentou a doutora. Estas ligações internacionais facilitam a troca de conhecimentos e recursos, que são fundamentais para resolver os desafios científicos da região.
A regulamentação progressiva também fortaleceu essa atividade no país. Em 2011, o Ministério da Ciência criou a Comissão Especial para Biobancos e, em 2020, o Ministério da Saúde aprovou a Resolução 2940 com diretrizes para o tratamento de amostras de origem humana em pesquisas científicas. Este progresso na área da regulamentação contribui para a transparência, rastreabilidade e cumprimento dos princípios éticos na utilização de amostras.
O primeiro banco de tumores infantis da Argentina foi criado no Hospital Garrahan como um projeto piloto na América Latina. Criado em 2005 e inaugurado oficialmente em 2007, permitiu a conservação de amostras de alto valor científico utilizadas em pesquisas que contribuíram para melhorar o diagnóstico e o tratamento em oncologia pediátrica.
Agenda e orientações internacionais ISBER 2025
A programação da reunião regional ISBER 2025 apresenta uma agenda focada nos temas mais atuais do setor: valor dos biobancos, aspectos éticos, qualidade e melhores práticas, biobancos de doenças raras, sustentabilidade, cooperação nacional e internacional e lições aprendidas com a experiência dos hospitais. Os eventos incluirão painéis de discussão, workshops e espaços para networking entre profissionais de diferentes países da América Latina e especialistas internacionais.
Entre os palestrantes destacam-se a Dra. Dianne Chadwick, diretora do Banco de Tumores de Ontário, no Canadá; Dr. William «Billy» Schleif, diretor regional da ISBER para as Américas e representante do biobanco pediátrico Johns Hopkins All Children’s nos EUA; e Dr. Guri Mahajan, diretor do Biobanco da Clínica Mayo nos EUA.
Eles têm experiência na criação e gestão de biobancos, bem como no desenvolvimento de diretrizes de boas práticas para o armazenamento e transporte de amostras de origem humana, animal e vegetal.
O encontro também visa fortalecer a cooperação internacional e consolidar a América Latina como fornecedora de dados científicos de qualidade. Como destacou Garcia de Davila, «o desafio é continuar a avançar em termos de infraestruturas, tecnologias e regulamentação, mas sobretudo em termos de cooperação internacional. A nossa oportunidade reside em fortalecer a posição da nossa região como fornecedora de dados científicos de qualidade a nível global».
O evento destaca a importância de atrair novas perspetivas para a investigação biomédica e otimizar as redes de cooperação que promovem a saúde da população e a inovação no setor.
«Os biobancos são um investimento no futuro da ciência. Cada imagem fornecida e armazenada em conformidade com as normas éticas pode significar um progresso no tratamento, diagnóstico de biomarcadores ou compreensão da doença. Apoiar os biobancos é apostar na investigação, na inovação e, em última análise, na melhoria da saúde de todos», concluiu a doutora.