De acordo com dados da EA for Impact, este país sul-americano produz 1,2 milhões de toneladas de resíduos plásticos por ano, e apenas 1% dessa quantidade é oficialmente reciclada. O restante vai parar nas praias, nos rios e até mesmo no sangue humano.
. O problema da poluição por plástico no Peru atingiu um ponto sem volta em 10 de julho, quase dois meses antes da média mundial. Isso é o que afirma um relatório elaborado pela associação suíça EA For Impact, que alerta que, a partir dessa data, todos os resíduos plásticos produzidos no país não poderão ser reciclados adequadamente e se acumularão nos ecossistemas e até mesmo no organismo humano.
A nível global, o chamado Dia do Excesso de Plástico só chegou em 5 de setembro de 2025, o que indica que o Peru enfrenta uma crise mais grave na área de gestão de resíduos em comparação com outros países. O estudo descreve em detalhes que a humanidade produz mais resíduos plásticos do que é capaz de processar, o que torna esse problema ambiental uma ameaça direta à vida cotidiana de milhões de pessoas.
Um problema que afeta a saúde e o meio ambiente
O relatório EA For Impact, baseado na base de dados internacional PLASTEAX, explica que os resíduos se dividem em duas grandes categorias: «bem geridos» (reciclagem, incineração ou eliminação em aterros sanitários) e «mal geridos» (aterros não sanitários, descargas ilegais ou lixo que não é recolhido). No caso do Peru, a acumulação de resíduos ocorre em ritmo acelerado: estima-se que cada habitante do país produza cerca de 30 kg de resíduos plásticos por ano, o que totaliza aproximadamente 1,2 milhões de toneladas de lixo por ano em todo o país.
O impacto não é medido apenas pela poluição dos rios, solos e mares. O estudo alerta que microplásticos já foram encontrados no sangue, pulmões e até mesmo na placenta humana, o que transforma a crise do plástico num problema de saúde pública. Esta situação torna o Peru particularmente vulnerável, uma vez que a discrepância entre o volume de resíduos produzidos e a capacidade de reciclagem leva a um impacto crescente destes poluentes na população.
O estudo também apela à adoção de medidas imediatas, desde políticas de economia circular até mecanismos como a responsabilidade alargada do produtor (REP), que obrigam as empresas a assumir a responsabilidade pelas embalagens que colocam no mercado. De acordo com a EA For Impact, o Dia do Plástico Excedente não é um fenómeno inevitável, mas sim o resultado de decisões coletivas, o que abre a possibilidade de adiar essa data nos próximos anos graças a ações coordenadas de governos, empresas e cidadãos.
69% dos resíduos plásticos no Peru estão concentrados nas praias, e apenas 1% do lixo é reciclado
Um monitoramento internacional realizado por cientistas da organização «Científicos de la Basura» revelou que 69% dos resíduos encontrados nas praias peruanas são materiais plásticos, principalmente garrafas e embalagens descartáveis. Este resultado coloca a costa do país entre as mais poluídas da parte latino-americana do Oceano Pacífico, sendo que a maior parte dos resíduos é de origem local e não é trazida pelas correntes marítimas. No total, foram recolhidas mais de 20 mil garrafas de plástico durante a investigação, entre as quais as marcas mais frequentes foram Coca-Cola, Pepsi e AJE Group.
A dimensão do problema também se reflete nos números relativos à gestão de resíduos sólidos a nível nacional. De acordo com dados do Ministério do Ambiente, o Peru produz mais de 21 mil toneladas de lixo por dia, mas apenas 1% é oficialmente reciclado. Isto contrasta com o facto de quase 78% dos resíduos terem potencial de reutilização, o que significa perda de recursos e uma oportunidade perdida, tanto do ponto de vista ambiental como económico.
O relatório destaca que a natureza informal do setor de reciclagem de resíduos impede o progresso dessas iniciativas. Estima-se que existam cerca de 180 mil recicladores no país, mas apenas 5.500 deles têm reconhecimento oficial, ou seja, apenas 3% do total. Esta situação, combinada com a falta de uma triagem adequada de resíduos na maioria das áreas de Lima, onde apenas 6-7 dos 43 municípios fazem a triagem correta, reforça a necessidade de uma estratégia nacional mais firme para combater a poluição por plástico.