O fundador da Microsoft apresentou um roteiro e explicou como a tecnologia permitirá acelerar o desenvolvimento e a disponibilização de tratamentos médicos em comunidades com acesso limitado a serviços de saúde
O empresário norte-americano Bill Gates, conhecido pelo seu trabalho pioneiro na Microsoft e pelo seu atual foco na filantropia, defendeu a incorporação da inteligência artificial (IA) na resolução de desafios de saúde em escala global.
«Está a chegar, resolverá muitos problemas e criará novos problemas», explicou Gates numa entrevista recente. Durante um evento em Nova Iorque, o magnata anunciou o lançamento de iniciativas que visam investir quantias significativas para fortalecer a saúde em países com menos recursos.
Gates apresentou um roteiro orientado para melhorar a saúde infantil entre 2025 e 2045. O documento sugere aumentar o apoio à investigação e desenvolvimento, com um papel central para a IA na busca de soluções eficazes e acessíveis.
“É quase tudo boas notícias o facto de usarmos a IA, tanto no lado da descoberta, que acelera a invenção de novos medicamentos e vacinas, como no lado da entrega, onde está a visão da fundação”, afirmou o empresário. Segundo Gates, o uso da inteligência artificial permitirá que a chegada dos medicamentos àqueles que precisam deles seja feita de forma “mais inteligente, rápida e barata”.
O fundador da Microsoft apresentou um roteiro e explicou como a tecnologia permitirá acelerar o desenvolvimento e a entrega de tratamentos médicos em comunidades com acesso limitado a serviços de saúde.
O filantropo detalhou que a Fundação Bill e Melinda Gates iniciará em 2025 testes-piloto que concretizam a combinação de ferramentas tecnológicas com serviços de saúde. O objetivo é avaliar o impacto dos sistemas de IA em contextos onde o acesso a médicos e centros especializados costuma ser limitado.
“Para os problemas de saúde do mundo, a IA é fantástica em todos os países, mas particularmente nos países que têm muito poucos médicos”, destacou Gates, enfatizando o potencial da tecnologia nos contextos mais adversos.
Um exemplo concreto da aplicação seria o uso de um telefone por mães em áreas rurais da África. Segundo Gates, “uma mãe na África usando seu celular em seu dialeto local pode pedir conselhos. Estou grávida, o que devo fazer com minha dieta? Tenho esses sintomas, o que faço? Estamos trabalhando para conseguir isso”.
A proposta prevê que sistemas inteligentes respondam a consultas médicas básicas, adaptem informações aos idiomas locais e, se necessário, encaminhem os pacientes a profissionais em tempo real.
Entre os aspectos que o empresário considera fundamentais para a implantação da IA na saúde está a colaboração entre governos e grandes empresas de tecnologia, popularmente chamadas de Big Tech.
“O governo precisa aprender sobre IA, então algum diálogo entre o governo e as empresas faz sentido. Você sempre pode dizer: eles são muito próximos ou o governo é muito antagônico?”, disse Gates. Embora tenha evitado entrar em detalhes sobre os desafios éticos e regulatórios, ele afirmou que uma coordenação fluida pode favorecer a elaboração de políticas adaptadas às realidades e aos desafios que essa tecnologia apresenta.
Sobre a expansão global da IA, Gates destacou que deter o avanço não é uma opção e que nenhum país pode isolar-se do rápido desenvolvimento. “Se o mundo votasse sobre se devemos ter IA ou não, isso seria interessante. Mas não vamos fazer essa votação. A IA está a avançar a toda a velocidade e qualquer país que pense em ficar parado será ultrapassado pelos outros países”, argumentou. Segundo explicou, é prioritário que os governos não se concentrem apenas nos receios em relação à IA, como a automatização do emprego ou a fraude digital, mas que prestem igual atenção ao seu potencial positivo em setores como a saúde.
Quanto ao papel filantrópico dos líderes tecnológicos, Gates destacou que grande parte dos que alcançaram grandes fortunas com a tecnologia optam por destinar recursos a obras sociais.
“Eles não pensam: ‘Oh, a minha família vai ter este castelo ou manter este negócio por 100 anos’. No mundo da tecnologia, uma grande percentagem está a aprender sobre filantropia e planeia doar grande parte do seu dinheiro”, afirmou, citando o caso do diretor da OpenAI, Sam Altman, que aderiu ao compromisso de doações da iniciativa Giving Pledge, liderada por Gates juntamente com outros filantropos.
O aumento do financiamento para campanhas de saúde, juntamente com a introdução da inteligência artificial desde a descoberta de medicamentos até à atenção primária, compõe o núcleo da proposta apresentada por Gates. A estratégia contempla parcerias multilaterais, desenvolvimento de plataformas acessíveis e uma transição gradual para que os países com menos recursos possam fortalecer os seus sistemas de saúde de forma sustentável, utilizando tecnologia de ponta.