A Associação Europeia de Transformadores de Plásticos alerta que «a autonomia estratégica está em risco». Eles afirmam que as medidas tomadas pela Europa «levaram a uma perda de competitividade que ameaça a sobrevivência de milhares de empresas e postos de trabalho. Eles observam que a situação favorece a importação de produtos de países terceiros que «não cumprem os mesmos requisitos regulamentares e de sustentabilidade que a Europa».
A indústria europeia de plásticos levanta a voz perante a «ameaça real de colapso, se não forem tomadas medidas imediatas, os danos para o setor serão irreversíveis», como afirmou a Associação Europeia de Transformadores de Plásticos.
A associação, juntamente com 28 organizações europeias, em carta dirigida às instituições da UE, emitiu um sério aviso, indicando que «a indústria do plástico está à beira do colapso e necessita de medidas imediatas para evitar danos irreversíveis».
Na opinião da organização, esta situação «põe em risco a autonomia estratégica do continente europeu em muitas áreas», e as medidas tomadas pelas instituições europeias e por alguns Estados-Membros, incluindo Portugal, «levaram a uma perda de competitividade que ameaça a sobrevivência de milhares de empresas e postos de trabalho em toda a Europa».
Risco para a autonomia estratégica
A declaração salienta que «a crise neste setor afeta diretamente a autonomia estratégica da União, uma vez que os produtos plásticos têm inúmeras aplicações na nossa vida quotidiana».
A associação salienta que este material é utilizado em setores importantes, como a indústria automóvel, a saúde, a agricultura, a construção e a distribuição, e ajuda a combater a crise climática graças à sua leveza, propriedades isolantes e eficiência.
Perda de competitividade
O agravamento da crise atual levará a um aumento da dependência da Europa em relação a países terceiros neste contexto global tão delicado. Na verdade, esta grave perda de competitividade reflete-se na redução da quota de mercado, que diminuiu de 22 % em 2006 para 12 % atualmente.
A isto acresce o facto de, até ao final de 2025,se prever uma perda de cerca de um milhão de toneladas de capacidade de transformação, o que compromete a consecução dos objetivos da União Europeia em matéria de circularidade e neutralidade climática.
Situação crítica em Portugal
Eles alertam que a situação da indústria europeia de plásticos é crítica, mas acrescentam que «a indústria portuguesa está em desvantagem em relação aos seus parceiros. Isto deve-se ao facto de sermos o único Estado-Membro que introduziu um imposto sobre os recipientes de plástico descartáveis».
A organização que representa os interesses da indústria de plásticos alerta que este imposto, «longe de contribuir para o desenvolvimento sustentável, provocou incerteza jurídica e custos desproporcionados, além de ter dificultado ainda mais a competitividade da indústria portuguesa na Europa e no mundo».
A Associação Europeia de Transformadores de Plásticos, na sua declaração, salienta que os dados falam por si e resume-os nos seguintes pontos:
- 70 % das empresas do setor e dos importadores não têm uma ideia clara se os seus produtos estão sujeitos a tributação e têm grandes dificuldades em avaliar o seu montante, o que cria incerteza.
- Em 2023, o volume de negócios em Portugal caiu mais de 2 mil milhões de euros (10% do volume total) em comparação com o ano anterior.
- Desde a entrada em vigor da Lei dos Resíduos e o anúncio da introdução do imposto sobre o plástico, as importações de produtos de plástico aumentaram mais de 1 bilhão de euros, substituindo a produção nacional.
- 40% das empresas tiveram de suportar mais de 50 000 euros em despesas com TI e procedimentos burocráticos relacionados com o imposto, e 69% planeiam pagar mais de 30 000 euros adicionais no ano fiscal de 2025.
Pressão insustentável
Segundo a organização, «estes dados refletem uma pressão insustentável sobre a indústria nacional, que é composta por 98 % de pequenas e médias empresas que não dispõem de recursos suficientes para cobrir encargos burocráticos e fiscais desta magnitude».
Eles observam que esta situação contribui para a importação de produtos de países terceiros que «não cumprem os mesmos requisitos regulamentares e de sustentabilidade que a Europa, o que reduz a competitividade da indústria nacional».
Outro problema preocupante é a ausência de controlo aduaneiro, o que permite a importação de materiais reciclados e produtos com conteúdo reciclado com certificados de credibilidade duvidosa, «o que cria ainda mais pressão», na opinião dos representantes do setor.
Recomendações estratégicas para a Europa
Face a esta situação, organizações europeias, incluindo a associação espanhola de recicladores de plásticos ANAIP, propõem seis recomendações estratégicas:
- Reforçar o controlo aduaneiro e aplicar medidas espelhadas aos plásticos importados.
- Estimular a procura de plásticos produzidos na UE e que contenham materiais reciclados.
- Investir em infraestruturas de recolha, triagem e reciclagem de resíduos, apoiadas por incentivos fiscais.
- Introduzir tarifas RAP (responsabilidade alargada do produtor) ecologicamente moduladas, que incentivem a reciclagem e o conteúdo de materiais reciclados.
- Garantir o acesso à energia a preços acessíveis.
- Assegurar a aplicação uniforme da regulamentação em todos os Estados-Membros.
Apelo urgente
Por estas razões, a indústria portuguesa de reciclagem de plásticos lança um apelo urgente para evitar a perda de milhares de postos de trabalho e milhões de euros destinados à inovação, o que também levará a um aumento geral dos preços de milhares de produtos.
«É necessário apoiar o setor através de uma tributação justa, clareza nos requisitos regulamentares e harmonização a nível europeu. Os produtos plásticos são indispensáveis, sendo utilizados em todos os setores, desde a saúde até à indústria automóvel. Só assim poderemos continuar a produzir, inovar e criar empregos num setor que é fundamental para a economia e a transição ecológica», afirma Isabel Goyena, diretora-geral da ANAIP.