A fossilização, encontrada no Parque Provincial dos Dinossauros, pertence a uma espécie até então desconhecida e exigiu a criação de uma nova família taxonómica, preenchendo uma lacuna de mais de 30 milhões de anos na história evolutiva das libélulas.
«Esta fósseis preenche uma lacuna evolutiva de mais de 30 milhões de anos na história das libélulas». Com esta declaração, a equipa da Universidade McGill avaliou a importância da sua recente descoberta no Parque Provincial dos Dinossauros, em Alberta, Canadá.
Trata-se de uma asa parcial fossilizada de libélula com 75 milhões de anos, pertencente a um género até agora desconhecido. A sua estrutura indica que tinha capacidade para voos longos.
A descoberta foi feita durante escavações universitárias num dos sítios paleontológicos mais estudados do mundo. De acordo com o Canadian Journal of Earth Sciences, esta criatura foi batizada de Cordualadensa acorni e serviu de motivo para a criação de uma nova família taxonómica, a Cordualadensidae, devido às suas características únicas.
A importância desta fósseis reside em vários aspetos. Em primeiro lugar, é a primeira libélula do Mesozóico encontrada no Canadá, o que muda significativamente a nossa compreensão dos insetos que coexistiram com os grandes dinossauros. Até agora, os achados de insetos neste sítio arqueológico limitavam-se a detritos microscópicos preservados em âmbar. O aparecimento da Cordualadensa acorni não só amplia o leque de espécies conhecidas, mas também introduz um novo tipo de fósseis na região: impressões fósseis, extremamente raras em Alberta.
A preservação de detalhes tão pequenos como as veias das asas permitiu aos investigadores reconstruir com precisão a anatomia da libélula. De acordo com o Canadian Journal of Earth Sciences, o estudo da estrutura das asas indica uma adaptação ao voo, o que sugere que a Cordualadensa acorni podia realizar voos longos ou mesmo migrações, tal como algumas libélulas modernas, que voam milhares de quilómetros. A envergadura das asas desta espécie chegava a 12 centímetros, o que a tornava uma presa potencial para répteis voadores e pequenos dinossauros, mas também um predador eficaz para outros insetos.
Esta descoberta destaca a importância dos insetos nos ecossistemas mesozóicos. Embora o seu tamanho muitas vezes os relegasse para segundo plano em comparação com os grandes vertebrados, o seu papel na cadeia alimentar era essencial. A Cordualadensa acorni, graças ao seu tamanho e capacidades, contribuiu para o equilíbrio ecológico, tanto como presa quanto como predador.
O processo de identificação da nova espécie e família abriu uma nova direção para a investigação nesta região. Os cientistas começaram a investigar formações rochosas que antes eram consideradas pouco promissoras para a preservação de insetos, e isso já deu os primeiros resultados. A descoberta da Cordualadensa acorni prova que mesmo em locais cuidadosamente estudados podem surgir fósseis inesperados, o que obriga a repensar os métodos e os horizontes da paleontologia na América do Norte.
O nome da espécie, «acorni», é uma homenagem a John Acorn, um divulgador científico canadiano cujo trabalho na promoção do estudo dos insetos e da história natural deixou um legado duradouro. Conforme descrito em detalhes pela University of Alberta Press, o seu programa de televisão «Acorn, the Nature Nut» inspirou gerações de jovens cientistas, e agora o seu legado está gravado na nomenclatura paleontológica.
O contexto da descoberta também destaca o valor da colaboração entre a ciência académica, a educação e a curiosidade. O fóssil foi descoberto por um estudante de pós-graduação durante um trabalho de campo, o que ilustra como pequenas descobertas feitas por mãos jovens e olhos atentos podem ter um impacto significativo na compreensão da história da vida.A publicação da pesquisa no Canadian Journal of Earth Sciences reacendeu o interesse pela paleontologia de insetos fósseis na América do Norte, uma área tradicionalmente ofuscada pelos grandes esqueletos de dinossauros. Cada nova fossilização, cada costela preservada na rocha, traz informações sobre a complexidade e a delicadeza dos ecossistemas antigos. A Cordualadensa acorni torna-se assim um símbolo dos mistérios que ainda permanecem ocultos nas camadas geológicas e das perguntas que a ciência está pronta para responder.