Do Everest ao Polo Norte — é assim que funciona o jogo que pode levá-lo aos cantos mais inesperados do planeta em busca de um «tesouro»
Todos os anos, no terceiro sábado de agosto, celebra-se o Dia Mundial do Geocaching, um jogo que consiste em procurar tesouros (ou «caches», como são chamados pelos jogadores) escondidos em todo o mundo, desde os recantos mais recônditos do planeta até ao Evereste, ao Polo Norte ou à Torre Eiffel.
Os caches são pequenas latas ou caixas com um «livro de registo» (uma folha onde as pessoas podem deixar a sua assinatura), que são registados numa aplicação oficial com informações sobre o local onde o cache está escondido. O geocaching é uma forma original de viajar e permitir que quem esconde os caches partilhe os seus locais favoritos no mundo.
As cápsulas podem ser muito pequenas (do tamanho de um micro) ou tão grandes quanto uma casa, como conta Lucas Errans, um dos jogadores mais ativos de Espanha, que conseguiu encontrar mais de 15 000 esconderijos e escondeu quase 5000.
Para jogar, basta baixar o aplicativo, ver quais esconderijos existem perto de sua localização e começar a procurar. Alguns esconderijos levam diretamente à caixa, enquanto outros testam sua perspicácia antes de revelar as coordenadas onde o esconderijo está localizado.
As regras são muito simples: encontre o esconderijo, abra-o, assine e esconda-o de volta no mesmo lugar onde o encontrou.
Alguns esconderijos também contêm presentes, como pequenos brinquedos, que os caçadores podem trocar entre si. No entanto, quando alguém tira algo do esconderijo, deve substituí-lo por outro brinquedo de valor igual ou superior. Desta forma, esta iniciativa torna o geocaching atraente também para os mais pequenos.
O jogo respeita o meio ambiente, pois entre as regras também está a manutenção dos esconderijos em bom estado. Os jogadores que os escondem são obrigados a substituí-los se estiverem danificados ou desaparecidos, bem como removê-los se alguém quiser retirá-los. Além disso, se os esconderijos forem colocados em ambientes naturais ou em terrenos privados, é sempre necessário obter autorização para os colocar.
Mas quem controla o cumprimento destas regras? Em Seattle, onde se encontra a sede do Geocaching, é controlado o funcionamento do jogo.
Cada esconderijo escondido é verificado quanto à conformidade com as regras por vários revisores (que também são caçadores), nomeados por Seattle em cada país. Lucas Errans, conhecido no jogo como Picarax, também detém o recorde do Guinness pela criação da maior geoarte do mundo.
«Cada esconderijo é um ponto verde no mapa; se colocarmos 20 pontos no mapa em forma de círculo, veremos um círculo. É como desenhar no mapa com pontos», diz Lucas. O seu mapa tem a forma de um mapa do tesouro, conta com 1010 esconderijos e está localizado na província de Toledo.
A maioria dos jogadores se interessa pelo jogo através do boca a boca, como Antonio Pintado, secretário do Club de Geocaching Spain, que conheceu o mundo do geocaching em 2009 graças a um amigo. «Um dia, ele levou-me para passear e pediu-me para enfiar a mão num buraco de árvore para tirar uma caixinha com um papel». Esse foi o primeiro esconderijo que Antonio registou, de mais de 13 000 que já registou até hoje.
Entre os que mais chamaram a atenção de Antonio, ele lembra-se de alguns para os quais teve de entrar em cavernas ou mergulhar com um bóia no mar. Além disso, o geocaching abriu-lhe uma nova forma de viajar: percorreu a famosa estrada americana 66, encontrando todos os esconderijos ao longo do caminho.
A comunidade de geocachers em Portugal é bastante grande e organiza muitos eventos onde os caçadores se conhecem, organizam a busca de novos esconderijos ou simplesmente partilham a sua experiência no jogo.
A história deste jogo começou há 25 anos, quando os EUA liberalizaram o uso de satélites e permitiram a disseminação da tecnologia GPS. Para comemorar este evento, Dave Ulmer escondeu uma pequena caixa numa montanha, a que chamou de «tesouro», e enviou as suas coordenadas para várias agências de notícias. As pessoas ficaram entusiasmadas e cada vez mais fãs aderiram ao mundo do geocaching. Hoje, estima-se que existam 3,5 milhões de jogadores em todo o mundo.