Um tesouro que dá muitas pistas sobre a sua época, que surpreendeu os historiadores. Numa descoberta que surpreendeu tanto arqueólogos como historiadores, uma equipa do Museu do Mosteiro Franciscano de Tolisa descobriu no rio Sava, na Bósnia, o que é considerado o maior depósito de lingotes de ferro com mais de 2000 anos.
Pedro Matkic foi o impulsionador da descoberta. Um aficionado por história regional que, no início de agosto, fotografou algo estranho nas profundezas do rio Sava. Depois disso, chamou especialistas para verificar o que era e os especialistas primeiro documentaram a superfície e fixaram pontos de referência para elaborar um modelo 3D do local
A descoberta
Os lingotes, com a sua característica forma bipiramidal, permaneceram submersos no leito do rio durante mais de dois milénios e foram realizados estudos mais detalhados com técnicas modernas, como a fotogrametria, permitindo georreferenciar a localização exata de cada lingote.
Os lingotes, apesar da sua exposição prolongada à água, encontram-se num estado surpreendentemente estável, o que permitirá realizar análises químicas e metalúrgicas para determinar a origem do ferro e a possível proveniência dos depósitos minerais utilizados na sua fabricação.
Segundo o meio de comunicação alemão Mellebonne, as autoridades do museu garantiram que apenas um lingote com estas características tinha sido conservado na Croácia e «dois ou três» na Eslovénia. «Foram encontradas quantidades maiores em França, Alemanha, Hungria e Roménia», afirmaram.
Contexto histórico
A descoberta do depósito no rio Sava data dos séculos I e II a.C., uma época em que o ferro era um recurso fundamental para o desenvolvimento das sociedades. Este material não só era utilizado na fabricação de armas e ferramentas, como também tinha um grande valor como objeto de troca nas rotas comerciais que atravessavam a Europa.
A região dos Balcãs, onde ocorreu a descoberta, constituía então um ponto de conexão entre diferentes culturas, como os povos ilírios e celtas, que ocupavam a região, ao mesmo tempo que Roma começava a expandir a sua influência política e militar.
A concentração de tantos lingotes num mesmo local é curiosa, mas pode ter várias razões, como uma carga destinada ao transporte fluvial, um armazém provisório ou mesmo uma tentativa de esconder bens.
Importância desta descoberta
A importância desta descoberta vai muito além do achado material, porque estes lingotes permitem abrir novas vias de investigação sobre como se estruturavam as economias antigas e de que forma os metais circulavam pela Europa.
A possibilidade de estudar um depósito de tal magnitude, conservado durante tanto tempo, oferece aos investigadores uma fonte direta de informação sobre técnicas de transporte e possíveis rotas de intercâmbio que ligavam diferentes regiões.
O facto de ter aparecido num ambiente inesperado aumenta ainda mais o seu valor, pois obriga a repensar certas ideias prévias sobre como e onde esses bens estratégicos eram movimentados.
Por enquanto, não foi atribuído um valor económico à descoberta dos lingotes. Ao contrário de outros tesouros arqueológicos, como moedas de ouro ou joias, neste caso o ferro não tem grande valor material como matéria-prima.
A relevância da descoberta reside noutros aspetos, como a sua antiguidade, o bom estado de conservação e, acima de tudo, a informação histórica que pode fornecer sobre as redes comerciais e a tecnologia metalúrgica da época. Por isso, os especialistas descrevem-na como uma descoberta de valor incalculável do ponto de vista patrimonial e científico.